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sábado, 23 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27145: Felizmente ainda há verão em 2025 (20): Em louvor da laranja doce guineense que o "tuga" não comia por ser "verde" (!)... E no entanto foram os navegadores e mercadores portugueses que a trouxeram das suas viagens ao Oriente e depois a disseminaram pela Europa, África e Brasil...




A laranja doce  (Citrus sinensis, var. dulcis).  Foi trazida do Oriente, no séc. XVI, pelos navegadores e mercadores portugueses, e disseminada pelo sul da Europa, a África, o Brasil...  Em muitas regiões do Mediterrâneo, do Médio Oriente e até do Cáucaso, a palavra para "laranja" remete diretamente a "Portugal".

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Comentário do Cherno Baldé  (Bissau), ao poste P27138 (*).


(...) Efetivamente, na Guiné-Bissau, do Norte ao Sul, assim como em todos os países da região (África Ocidental), as laranjas são uma das frutas mais comuns e apreciadas. 

Em determinado período do ano (de novembro a março), invadem o mercado para logo a seguir dar lugar à chegada da época do caju e das mangas (março-junho). 

Sem sombra de dúvidas, podemos considerar, sem exagero algum, que a Guiné-Bissau é um país muito rico em biodiversidades e frutas que a natureza e o trabalho dos camponeses fornecem todos os anos em abundância. Todavia, a laranja e outros frutos apresentam ao mesmo tempo um grande desafio, pois que, sendo perecíveis e muito pouco transformadas, são sazonais e não duram por muito tempo.

Mas há um pormenor a ter em conta, as laranjeiras (a par de  muitas outras árvores de fruto e  outros produtos agrícolas) não são nativas da região nem do continente, pelo que não são espontâneas ou selvagens como se poderia pensar.

 O local  (na região de Quínara, subsector de Fulacunda) onde o Joaquim Caldeira e seus companheiros encontraram a árvore , era, de certeza quase absoluta, uma aldeia abandonada (tumbum em mandinga e fula) devido à guerra ou a outras razões. 

A cor normal da laranja é a verde, mas que vai mudando de coloração para verde-amarelado conforme vai amadurecendo. No Sul do país demoram mais a amadurecer, são quase sempre verdes e são mais saborosas devido à pluviosidade e à riqueza dos solos.

Em Bissau e em todo o Nordeste, a vida das laranjeiras é muito curta, precisamente devido à pobreza dos solos em certos nutrientes orgânicos de que, certamente, precisam. 

No Sul as laranjeiras duram por muitas gerações, pois em casa dos familiares da minha esposa (Quitafine, região de Tombali) ainda podem  encontrar-se  algumas do período anterior à guerra colonial e que teriam sido abandonadas durante um largo período, e depois recuperadas juntamente com as árvores de rendimento mais típicas da zona que são as coleiras (que dão a noz de cola).

Um pormenor não menos importante sobre a história dos primeiros contactos e das chamadas "Descobertas" e das fases subsequentes, é que durante muito tempo os interesses dos navegadores/exploradores não seria a colonização propriamente dita (que cronologicamente só vai aparecer mais tarde), mas sim o intercâmbio comercial (mesmo se desigual). 

Seria nesse período que ocupou alguns séculos, que a disseminação da maior parte de plantas e produtos  se teria desenvolvido e os portugueses teriam desempenhado um papel importantes nessas trocas e expansão de culturas exóticas de um país a outro e/ou de um continente a outro.

Em conclusão, e sem querer branquear Portugal e os portugueses, podemos afirmar que nem sempre foi um país "colonialista",  como comumente se julga,  e que a colonização que aconteceu em alguns países, para além de tardia, durou pouco tempo, contrariamente ao período que no estudo da História é conhecido por 'mercantilista' e em que Portugal se teria distinguido dos outros países,  seus vizinhos e rivais.(...) (**)

 
quinta-feira, 21 de agosto de 2025 às 12:30:00 WEST 


 2. Comentário do editor LG:

É verdade, Cherno, é intelectualmente honesto e historicamente correto reconhecer-se o papel (pioneiro) dos navegadores e mercadores portugueses na abertura da primeira "autoestrada marítima da globalização".

 Como toda a ação humana coletiva, a "expansão marítima portuguesa" teve efeitos benéficos mas também teve efeitos perversos, contra-intuitivos ou não-esperados. 

A laranja, tal como a conhecemos hoje, a laranja doce, foi umas das coisas boas que chegaram até nós (e à nossa mesa, pobres e ricos, europeus e nao-europeus). A laranjeira é a árvore de fruto mais plantada em todo o mundo... Ou a laranja é o fruto mais consumido em toda a parte.

A laranja doce (Citrus sinensis, var. dulcis) é originária da Ásia, numa região que inclui o sul da China, o nordeste da Índia e o sudeste asiático. O cultivo da variedade doce começou há milhares de anos. Há  referências a esta fruta, na literatura chinesa, que datam de,  pelo menos, 314 a.C. 

Já antes, na Idade Média tinha sido introduzida pelos árabes, na Europa,  a laranja azeda  (Citrus aurantium).  De resto, a palavra "laranja" vem do árabe nāranj (em castelhano, naranja).

Cabe aos navegadores e mercadores portugueses, no séc. XVI,  o mérito de ter trazido a laranja doce, das suas viagens ao Oriente (e nomeadamente á China). 

Esta nova variedade, mais apreciada pelo seu sabor, foi rapidamente adotada e o seu cultivo espalhou-se logo pela bacia do Mediterrâneo. 

A associação de Portugal a esta fruta tornou-se tão forte que, em várias línguas,a palavra para "laranja" deriva do nome de Portugal. De facto, com a expansão marítima portuguesa, a variedade doce (Citrus sinensis, var. dulcis) difundiu-se rapidamente e ganhou... "quota de mercado" (como diríamos hoje, em linguagem de marketing).

Não admira, por isso, que em muitas regiões do Mediterrâneo, do Médio Oriente e até do Cáucaso, a palavra para "laranja" remeta diretamente a "Portugal", porque foi justamente através dos navegadores e mercadores portugueses que o fruto chegou, no s séc. XVI e XVII. Em várias línguas o seu nome ficou associado a Portugal, coisa que eu não sabia de todo ("santa ignorância"!)

  • turco: portakal

  • grego: portokáli (πορτοκάλι)

  • persa / farsi: porteghal (پرتغال– ) (língua oficial do Irão e do Afeganistão)

  • búlgaro: portokal (портокал)

  • romeno: portocală

  • georgiano: phortokhali (ფორთოხალი)

  • árabe marroquino (dialetal): lārānž portuqālī 

  • árabe moderno: borṭuḳān ( برتقال ) (***)

Seguindo as rotas comerciais e, depois, da colonização, os portugueses levaram a laranja doce para o continente africano, onde a aclimataram em diversos pontos das suas feitorias e colónias. 

Em África, a cultura da laranja, tanto azeda como doce, foi introduzida em várias partes do Norte de África, ligando-se à presença árabe e posteriormente aos portugueses. A laranja- doce  espalhou-se, sobretudo, a partir do século XVI.

De igual forma, com o estabelecimento do Brasil como colónia, os portugueses introduziram a cultura dos citrinos no novo território, onde as condições climáticas se revelaram extremamente favoráveis. A laranja adaptou-se tão bem que o Brasil é, atualmente, o maior produtor mundial deste fruto.

No Brasil, oss portugueses trouxeram os primeiros pés de laranja doce ao Brasil por volta de 1530, principalmente para combater o escorbuto durante as longas viagens marítimas. Inicialmente, o cultivo ficou restrito ao litoral, expandindo-se depois pelo país.


(Pesquisa:  LG + IA / Gemini / Perplexity / ChatGPT | Condensação / revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)


(***)  A Laranja de Portugal: O Significado de "Borṭuḳān" em Árabe Moderno

Em árabe moderno (falado em 20 países, por c. de 280 milhões de pessoas), a palavra Borṭuḳān (برتقال) significa simplesmente laranja, o fruto cítrico. 

No entanto, por trás dessa tradução direta, esconde-se uma fascinante história etimológica que liga diretamente o fruto a Portugal.

A própria palavra "Borṭuḳān" é uma derivação do nome do país, Portugal. Esta ligação linguística remonta à época em que os comerciantes portugueses introduziram a laranja doce na região do Mediterrâneo e no Médio Oriente.  

Antes da chegada das laranjas doces, trazidas pelos portugueses da Ásia, a variedade predominante na região era a laranja amarga ou azeda, conhecida em árabe como "nāranj" (نارنج), uma palavra de origem persa (ou melhor, do sânscrito). 

Até então só se conhecia a laranja azeda (Citrus arantium) (que deu em italiano a palavvra "arancia" para o fruto da laranjeira; foram os mercdaores genoveses que a trouxeram do Levante). Tinha pouco uso gastronómico e era também conhecida como "maçã da China",

Com a popularização da nova e doce variedade de laranja, muitos povos da região associaram o fruto aos mercadores que a disseminaram. Assim, em diversas línguas, a palavra para "laranja" tornou-se um cognato de "Portugal". 

Esta herança linguística é visível não só no árabe, mas também em línguas como o turco ("portakal"), o grego ("portokáli") e o persa ("porteghal").

Portanto, quando um falante de árabe moderno pede um "Borṭuḳān", está, sem saber, a evocar uma parte da história da exploração e do comércio marítimo português, que deixou uma marca indelével não só na cultura e na gastronomia, mas também no vocabulário de muitas nações. 

A palavra é, pois,  um testemunho duradouro do papel de Portugal na disseminação global deste popular fruto, o mais popular em todo o mundo.  (Fonte: Adapt de IA/Gemini).

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26910: S(C)em comentártios (72): Em Fulacunda, a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação, quanto mais alimentar 400 bocas civis e muçulmanas (Cherno Baldé, Bissau)


Cherno Baldé (Bissau)



1.  Comentário do Cherno Baldé ao poste P26900 (*)


Tabanca Grande Luís Graça, não sei porque insistem nessa retórica de que a população civil de uma localidade como Fulacunda com, no minimo, 400 habitantes , dependia da tropa. 

Quando o afirmam,  deveriam poder dar evidências credíveis, mas não é isso que se vê nas imagens quando vemos a população e, inclusive, alguns soldados nativos a trabalhar na limpeza do sorgo (milho) para a sua alimentação.

 Se não podiam produzir localmente, por causa do confinamento da guerra, então sempre podiam comprar em outros sitios da região ou fora dela. 

A minha opinião é de que a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação nos diversos aquartelamentos fora das cidades. 

E, sem esquecer que os muçulmanos, como seria o caso em Fulacunda, tinham algumas reservas de natureza religiosa em relação à comida dos portugueses em geral e da tropa (nos aquartelamentos) em particular,  devido ao uso de certos produtos proibidos ou considerados ilícitos pela sua religião. (**)

_______________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 9 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26900: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte IX

(**) Último poste da série > 6 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26891: S(C)em Comentários (71): Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador" (Cherno Baldé, Bissau)

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26891: S(C)em Comentários (71): Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador" (Cgherno Baldé, Bidssau)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) >   c. 10 de janeiro de 1970 > O Cherno Rachide em visita religosa a Bambadinca. A personagem central, vestida de branco e "gorro" preto, que parece estar a presidir a uma cerimónia religiosa islâmica,  é sem dúvida o Cherno Rachide que eu conheci em Bambadinca... (A foto do leiriense António T. Roda, meu camarada da CCAÇ 12, campeão nacional de damas, dirigente federativo, que vive em Setúbal,  não traz legenda: ampliando-a, parece que o imã está a contar notas e moedas que recebeu, oferta dos crentes, a par de nozes de cola.)

Recordo-me de o comando do batalhão, na altura sediado em Bambadinca, o BCAÇ 2852 (1968/70), ter  mandado armar uma tenda, com tapetes e almofadões, na parada do aquartelamento (a localidade era um importante posto administrativo e porto fluvial), para receber condignamente não só as autoridades locais, civis e militares, como também os seus fiéis...  

Ele virá a falecer, em Aldeia Formosa, em setembro de 1973, em  dia que não podemos precisar (nem com a juda do assistente da IA...), mas seguramente antes do 24 de setembro (em que o PAIGG, diz-se, terá proclamado unilateralmente a independência do território... em "Madina do Boé"!). 

O comando do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) organizou uma coluna de transporte  para os seus fiéis do regulado de Badora poderem ir prestar-lhe a última homenagem em Aldeia Formosa (Quebo)...  No meu tempo, em 1969, o troço Saltinho-Aldeia Formosa estava interdito... Hoje, por estrada alcatroada, são 87 km, mas na época (1969) só havia o troço alcatroado Bambadinca-Bafatá.

 
Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali >  Aldeia Formosa (Quebo) > Janeiro de 1973 > Tabaski ou festa do carneiro > O Cherno Rachide, acompanhado de um dos seus filhos (possivelmente o seu sucessos, Aliu),  presidiu à cerimónia, ele próprio degolou (ou ajudou a degolar) o carneiro. Por detrás de si,  o cap mil (e nosso grão-tabanqueiro) Vasco da Gama, cmdt da CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", Cumbijã, 1972/74). 

Foto (e legenda): © Vasco da Gama (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Cherno Baldé (Bissau)



1. Comentário do nosso colaborador permanente, Cherno Baldé (Bissau),  ao poste P26880 (*)


A morte do Imã a que se refere o Carlos Filipe Gpnçalves,  é a do bem conhecido chefe religioso de Quebo (Aldeia Formosa), Cherno Rachide, que morreu em setembro de 1973 e não no Gabu, como ele refere. 

E, ao contrario do que muitos militares portugueses da época pensavam,  ele nunca foi um agente duplo, era sim um prestigiado sábio muçulmano, versado em letras corânicas,  entre outros conhecimentos esotéricos. Assim como não era o chefe hierárquico de nenhuma comunidade de religiosos,  como acontece em outras confissões religiosas, pois nesta religião existe uma reconhecida descentralização que faz de cada comunidade e de cada mesquita uma entidade quase autónoma, sendo que é a força da sua dinâmica em movimento em permanência,  assim como é a sua grande fraqueza enquanto entidade que deveria ser unida e coesa no seu todo, o que não acontece no seu caso,  dai a  diversidade e pluralidade nas tomadas de decisões que muitas vezes a afetam e dividem, contrariamente a muitas outras confissões monoteístas.

Dizem que o Cherno Rachide morreu em 1973 para não assistir ao advento da independência com o PAIGC como poder dominante no país. Sorte foi a sua que teve essa visão reservada só aos sábios e visionários, também eu,  se tivesse dom e essa capacidade,  preferiria morrer a assistir a essa "heresia" que, na Guiné-Bissau, chamaram de libertação nacional. 

Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador". E foi um bom amigo do General Spinola, embora a sua familia fosse originária do Futa-Djalon.

Um abraço amigo,

Cherno AB (**)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 4 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26880: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte VII: Os "turras" têm agora um míssil que abate aviões e helicópteros

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26856: S(C)em Comentários (69): A maldição de...Bissássema, no setor de Tite, região de Quínara (Cherno Baldé, Bissau)




Guiné-Bissau > Regiãods e Quínara > Tite > 2019 > Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) 

Foto de Assana Sambú.  Jornal Odemocrata 04/08/2019. (com a devida vénia...)



1. Comentário de Cherno Baldé, ao poste P26839 (*):

Bissássema é um paradoxo, tão perto de Bissau, a capital, e tão longe da civilização.

 Desde a independência do território que nesta localidade,  situada no Sector de Tite,   acontecem, quase todos os anos, crimes e ajustes de contas com acusações de feitiçaria e outras barbaridades típicos de sociedades dominadas pelo obscurantismo.

Não conheço, nunca lá estive e é das zonas mais abandonadas do país, pois nunca se houve falar  dela a não ser pelos piores motivos.

Cdte, Cherno AB


2. Não é fácil encontrar notícias sobre Bissássema, setor de Tite, região de Quínara, Guiné-Bissau, por bons ou mais motivos... Nem com a ajuda de um assistente de  IA - Inteligência Artificial... 

No jornal da Guiné-Bissau "O Democrata" encontrámos uma(e única) referênmcia a Bissássema, mas já é antiga, de 2019, anterior à pandemia... Merece, mesmo assim, ser citada. (**)


Esquadra de Polícia de Tite é um "lixo que espelha a banalidade" do Estado Guineense.
 Jornal Odemocrata, 04/08/2019.

 Texto e foto: Assana Sambú


[Reportagem, julho 2019] O edifício da Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) do setor de Tite, região de Quinará, no sul da Guiné-Bissau, encontra-se em avançado estado de degradação (...).

(...) A Esquadra cobre todo o setor de Tite e conta com 15 agentes, dos quais apenas três são efetivos, nomeadamente: o comandante, o seu adjunto e o responsável da logística. As restantes 12 pessoas são todas auxiliares recrutadas internamente, sem salários nem subsídios, porém são elas que fazem todo o serviço da esquadra.

(...) O comandante da Esquadra, Sete Djassi, reconheceu na entrevista a O Democrata a situação de degradação daquela Esquadra.

(...) O subinspetor (alferes) Sete Djassi reconheceu igualmente que a Esquadra não está nada bem e precisa de uma intervenção das autoridades competentes, de formas a servir condignamente as forças policiais que dão as suas vidas para servir o país e a população todos os dias.  

(...)  “O edifício onde funciona a esquadra é uma antiga loja no período colonial e até hoje tem aquela zona do balcão. Tem ainda um salão, um quarto e na parte lateral tem uma sala que foi adaptada para funcionar como o Gabinete do Comandante. A Esquadra dispõe de cela que éuma espécie de túnel, aproveitado para cela”, contou.

(...) Em termos de meios de transporte para a mobilidade dos polícias, explicou que dispõem de uma viatura (Jeep) descapotável adquirido já há alguns meses do Comando da Província Sul e uma motorizada que receberam no quadro das eleições legislativas de março deste ano. Lembrou que trabalhavam sem nenhum meio de transporte e que as missões eram feitas a pé, sobretudo no concernente à caça aos gatunos ou pessoas que tenham cometido algum crime.

“Andávamos a pé até ao interior das tabancas mais longínquas do setor para ir buscar as pessoas que recusam obedecer às ordens do comando, mesmo notificadas. A mesma coisa acontece com as pessoas que cometem crimes de roubos ou de homicídio e muitas vezes corremos risco de vida ao sermos confrontados. Felizmente sempre cumprimos a nossa missão.  

(...) Djassi revelou que as deslocações das forças policiais para as operações no interior do setor são asseguradas pelos queixosos, ou seja, são essas pessoas que compram o combustível para a viatura, porque, conforme disse, a esquadra não tem meios para garantir o combustível todo o tempo para a viatura.

Sobre o famoso caso de “feiticeiria” que se registava com frequência na secção de Bissassema e que acabava sempre em morte de pessoas acusadas da prática de feiticeira, disse que atualmente os casos diminuíram muito e que agora trabalham em colaboração com algumas pessoas naquela aldeia para denunciar as que tentam acusar outras sem fundamento. 

Sublinhou ainda que os casos de roubo de gado também diminuíram, porque, de acordo o polícia, neste momento toda a gente está preocupada mais com os trabalhos do campo, razão pela qual não se regista com frequência casos ligados a roubo de animais.

Contudo, ressalvou que no momento a grande preocupação tem a ver com a questão do conflito de posse de terra para a produção dos pomares de caju. Frisou que apenas no período da seca é que se registam mais problemas de roubo e de agressões. (...)


Por: Assana Sambú | Foto: A. S. (com a devida vénia...)

(Seleção, excertos, revisão/fixação de texto, negritos, edição de foto: LG) 
_________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer

(**) Último poste da série > 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26826: S(C)em Comentários (68): Fome, camaradas ?!.... Não, em Nova Lamego, São Domingos, Bissau (Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, 1967/69): sim, "aos poucos de cada vez" na Ponta do Inglês, Xime (Manuel Vieira Moreira, 1945-2014, ex-1º cabo mec auto, CART 1746, 1967/69)

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26824: Diálogos com a IA (Inteligência Artificial) (3): A festa do Tabaski entre os muçulmanos da Guiné-Bissau (com Armando Oliveira, Cherno Baldé, Catarina Meireles e Luís Graça)





Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1972/74 > "Festa do carneiro" ou Tabaski entre os muçulmanos da comunidade local

Fotos: © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. O 
 Cherno Baldé é  o nosso "agente" em Bissau: na realidade, este "menino" de Fajonquito, hoje homem grande, pai de 4 filhos, casado com um bonita nalu (e cristã!), quadro superior com formação universitária na Ucrânia,  ex-URSS,  e em Portugal, hoje consultor independente na área de   desenvolvimento e gestão de empresas, representa todos os nossos amigos guineenses que não têm forma de comunicar connosco, e que mantêm, com os portugueses,  antigos combatentes, fortes laços afetivos, baseados numa experiência e num respeito comuns... 

E mais do que "agente", o Cherno é um grande conhecedor e apaixonado defensor do melhor que a sua terra tem, a sua cultura, a sua história, o seu património (material e simbólico), as suas línguas e as suas gentes... 

Ele é o nosso assessor  para as questões culturais, artísticas,  sociais, económicas e religiosas da comunidade fula a que pertence, com muito orgulho. E para questóes etno-linguística, em geral. 


Como já aqui o dissemos, era (e é) pouco santa mas grande a nossa ignorância em relação à religião e demais aspetos da cultura dos guineenses, fossem (ou sejam) eles animistas, muçulmanos ou cristãos ("grumetes") (*)

Há 50 anos não  havia ainda a Internet, nem muito  menos os assistentes de IA - Inteligência Artificial, que vierem tornar obsoletas as nossas enciclopédias. (Tenho algumas, em português e inglês, que os meus filhos irão vender ao quilo; por enquanto ainda não me desfaço delas, têm um valor afetivo...). 

Em muitas questões relacionadas com religião, língua, cultura, história, etc. da Guiné-Bssau, eu não dispenso o sábio e sempre ponderado e bem vindo comentário do nosso assessor Cherno Baldé, bom guineense e melhor muçulmano que sabe muito mais de nós (e dos nossos)  do que nós dele (e dos seus).


II. Perguntámos ao ChtaGPT (e ao Gemini IA /Google) (**): 

"O que é a 'festa do carneiro' entre os muçulmanos da Guiné-Bissau ?


A. Resposta pronta do ChatGPT em Português ("Chatbot adaptado à cultura e linguagem portuguesas, com foco em educação e respeito")... 

A "festa do carneiro", como é popularmente conhecida na Guiné-Bissau, refere-se à celebração do Eid al-Adha, também chamado de Tabaski em muitos países da África Ocidental. É uma das datas mais importantes do calendário islâmico, comemorada por muçulmanos em todo o mundo, incluindo a vasta comunidade muçulmana da Guiné-Bissau.

Significado religioso:

O Eid al-Adha celebra o ato de fé e obediência do profeta Ibrahim (Abraão), que, segundo a tradição islâmica, estava disposto a sacrificar o seu filho Ismael em obediência a Deus. No entanto, Deus substituiu o filho por um carneiro, que foi sacrificado no seu lugar.

Como se celebra na Guiné-Bissau:

Na Guiné-Bissau, esta celebração tem características culturais e comunitárias muito próprias:
  • Sacrifício do carneiro: Famílias muçulmanas que têm condições financeiras compram um carneiro para sacrificar, simbolizando o sacrifício feito por Abraão. O animal deve ser abatido de acordo com os preceitos islâmicos.
  • Partilha da carne: A carne do animal é geralmente dividida em três partes – uma parte para a família, uma para familiares e amigos, e outra para os mais necessitados, reforçando o espírito de solidariedade.
  • Orações comunitárias: De manhã, as pessoas reúnem-se em grandes espaços abertos para realizar orações especiais em conjunto.
  • Momentos de convívio: É também um momento de união familiar, onde se vestem roupas novas ou tradicionais e se visita familiares e vizinhos.
  • Relevância social: A festa tem um grande impacto na vida social e económica do país, com movimentações nos mercados, nas aldeias e nas cidades.

Este é um evento muito aguardado e vivido com grande fervor religioso e sentido comunitário na Guiné-Bissau.

Se quiseres saber mais sobre tradições religiosas ou culturais no mundo lusófono, explora gptonline.ai — está cheio de conteúdos úteis!
 

B. Resposta do Gemini IA / Google:

A "festa do carneiro" entre os muçulmanos da Guiné-Bissau é a celebração do Eid al-Adha, também conhecido localmente e em outras partes da África Ocidental como Tabaski.

Esta é uma das duas maiores e mais importantes festividades do calendário islâmico (a outra é o Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadão). 

O Eid al-Adha comemora a disposição do Profeta Ibrahim (Abraão) em sacrificar o seu filho Ismael (na tradição islâmica) como um ato de obediência a Deus. No entanto, Deus interveio e substituiu Ismael por um carneiro (ou outro animal), que foi então sacrificado em seu lugar.

Assim, a principal característica desta festa é o sacrifício ritual de um animal, geralmente um carneiro, mas também pode ser uma cabra, vaca ou camelo, dependendo das possibilidades da família. A carne do animal sacrificado é tradicionalmente dividida em três partes: uma para a família que realizou o sacrifício, uma para os parentes e amigos, e uma para os pobres e necessitados.

Para além do sacrifício, o Eid al-Adha na Guiné-Bissau, assim como em outras comunidades muçulmanas, é um momento de:

  • Orações especiais (Salat al-Eid): Os muçulmanos reúnem-se em mesquitas ou espaços abertos para realizar orações congregacionais;
  • Reuniões familiares e sociais: As pessoas vestem as suas melhores roupas, visitam familiares e amigos, trocam cumprimentos e partilham refeições festivas;
  • Atos de caridade e generosidade: É um momento para ajudar os menos afortunados, oferecendo-lhes comida e apoio financeiro;
  • Reflexão e renovação da fé: Os muçulmanos lembram-se da história do sacrifício de Ibrahim e reafirmam a sua fé e submissão a Deus.

É importante notar que a data exata do Eid al-Adha varia a cada ano, pois é baseada no calendário lunar islâmico. As celebrações geralmente duram alguns dias. Na Guiné-Bissau, como em outros países com populações muçulmanas significativas, o Tabaski é geralmente um feriado nacional.

Guiné-Bissau > Bissau >  2004 > Festa do Tabaski (ou do carneiro) (em árabe, Aïd el- Kebir ou Aïd el-Adha) > O nosso grã-tabanqueiro Cherno Baldé com os seus 4 filhos...  A festa do Tabaski (designação corrente nos países de forte tradição muçulmana da África ocidental)  é, a seguir à festa do fim do Ramadão, a mais importante do Islamismo, equivalente ao Natal cristão. A data é variável, em 2015, foi a 24 de setembro. (***)


"Segundo o Islamismo, o filho herdeiro de Abraão foi Ismael e não Isaac. Esta festa é a comemoração do Livramento, do filho de Abraão que foi substituído por um cordeiro no momento exato em que seu pai iria sacrificá-lo, em obediência ao Senhor. Esta providência divina livrando (segundo o Islão) a Ismael, pai da nação árabe e antepassado do profeta, é lembrada anualmente por todo o povo muçulmano, como a Festa do Sacrifício ou a Festa do Cordeiro." (Fonte: Ordidja)

Foto: © Cherno Baldé (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legenda: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné-Bissau > Região de Bissau > Tabatô > 28 de Novembro de 2009 > A festa do  Tabaski... em que pela 1ª vez participaram três europeus, não-muçulmanos, duas portuguesas e um espanhol... 

Tabatô passou-nos completamemte ao lado, ao tempo da guerra colonial. Era uma aldeia, discreta e pacífica, de músicos e construtores de instrumentos músicos, com raízes ancestrais no antigo império do Mali e depois no reino do Gabu, Fica a 10 km, a nordeste de Bafatá, do lado direito da estrada que segue para Contuboel (e a cerca de 15 km, a sul desta povoação, onde alguns de nós estiveram no respetivo Centro de Instrução Militar, em 1969). É a terra natal do nosso grão-tabanqueiro Mamadu Baio, músico. 

Uma das portuguesas que participou no Tabaski de 2009  foi a Catarina Meireles, médica (minha antiga aluna de saúde pública, em 2007, na ENSP / NOVA), que aparece  aqui com uma criança mandinga ao colo.

Foto (e legenda): © Catarina Meireles (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


III. Resposta do Cherno Baldé, em comentário ao poste P16801 (*)

O conjunto das fotos (*)mostra diferentes momentos da vida da tabanca, as primeiras fotos, de 1 a 3 mostram o dia da festa do Tabaski, a cerimónia que faz referência à fidelidade do Patriarca/Profeta Abraão para com o seu Deus ao sacrificar o seu único filho (Isaac para os cristaáos e Ismael para os muçulmanos). 

As outras fotos (4 e 5) podem não estar associadas à festa do Tabaski, mas de outras festividades como o Fanado de rapazes e/ou o aparecimento de Cancurans.

Cordialmente,

Cherno AB
2025 M05 15, Thu 16:46:59 GMT+1

Sobre o Ramadão (22 referências), vd. aqui (incluindo comentários do Cherno Baldé).


IV. O Tabaski em Tabatô, pela Catarina Meireles, é um texto de antologia do nosso blogue. Não nos cansamos de o reproduzir, aqui, pela terceira vez (****):

O Tabaski em Tabatô

por Catarina Meireles

No passado fim de  semana (26-27 de novembro de 2009) fui ao Tabaski  − cerimónia de imolação do carneiro (por analogia: Páscoa dos Muçulmanos).

Depois de muitas resistências, dúvidas, declinações... lá consegui que me deixassem assistir ao ritual ("eucaristia") numa tabanca perto de Bafatá, de seu nome Tabatô  
−  muito especial, particularmente pela sua forma de vida comunitária, que assenta na música e dança étnicas.  São fabulosos!

Fui com mais uma amiga (portuguesa) e um amigo (espanhol). Vestimos roupas típicas, ocupámos as posições indicadas (segundo a ordem social vigente) e imitámos tudo o que nos diziam para fazer... E não me senti diferente... ao contrário, até me senti mais especial!

No fim do ritual, chamaram-nos (aos 3 brancos) para junto dos Homens Grandes e ajoelhámos-nos em círculo.

Para quê? Para dar graças a Alá por esta dávida  
− pela primeira vez 3 brancos visitaram aquela tabanca no dia do Tabaski. Era um sinal divino de prosperidade e de vida longa (incluindo para nós!)

As explicações foram reforçadas várias vezes para que percebessemos o quão importante e bem-vinda era a visita dos 3 brancos.

Eu disse:

 
− Sim, 3 é número sagrado!

Eles rejubilaram com o entendimento do misticismo!

Foi-me pedido que falasse... e falei. Pedi uma cadeia de união 
−   corrente de mãos dadas. 

 Expliquei como fazer e disse:

− Não há preto, não há branco, somos todos irmãos... daí esta cadeia de união.

E do meu lado esquerdo soou uma voz meiga, dum dos homens que me acolheu nas 3 vezes que fui a essa tabanca:

 
− Obrigado, Fátima de Portugal!

Catarina Meireles

Bafatá, 1 de Dezembro de 2009 (****)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)
(****) Vd. poste de 8 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6695: Memória dos lugares (89): Bafatá, Tabatô, Tabaski 2009: Não há preto nem branco, somos todos irmãos, disse a Fátima de Portugal numa cadeia de união... (Catarina Meireles)

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26805: S(C)em Comentários (65): A "ejaculação precoce" dos jovens biafadas de Quínara que precipitaram a guerra (em Tite, 23 de janeiro de 1963), e que passaram a perna ao Amílcar Cabral e ao seu partido de grumetes (Cherno Baldé)


Mapa da Guiné-Bissau: destaque, a vermelho, para a região de Quínara (adotamos a grafia que era usada pela cartografia militar portuguesa). Fonte: adapt de Wikipedia, com a devida vénia...

Segundo o Cherno Baldé, a palavra (e a grafia) "Quínara" é portuguesa e resultou da corruptela da palavra "Guínala" que designava uma parte dos três principais reinos biafadas do séc. XIX, criados em consequência do deslocamento destes que, empurrados pelas guerras de conquista dos fulas em revolta contra o jugo mandinga/soninqué na segunda metade do séc. XIX, depois de mais de 6 séculos de submissão e escravidão na região oeste africana da Senegâmbia.(*)
 


1. Comentário do Cherno Baldé, nosso colaborador permanente e assessor para as questões etno-linguísticas (**)

Caro amigo Luís Graça, a tua questão  é: "Porque os biafadas de Quínara foram juntar-se à guerrilha?"..

Na minha opinião, eles aspiravam ao poder, ao regulado/regência sobre os outros grupos, eles queriam reinar sobre os outros  à imagem e semelhanca dos mandingas, seus modelos e inspiradores,  que governaram o território durante séculos. 

No território da Guiné, da época, todos queriam o poder (ser rei, régulo ou djagra) o que, aliás acontecia um pouco por todos os lados em África e no mundo.

Os objetivos do PAIGC só mais tarde, após o congresso de Cassacá (1964), começaram a ser claramente expostos aos guerrilheiros e à população sob a sua dependência, antes disso muitos, sobretudo mandingas e biafadas, pensavam que a luta estava a ser feita no sentido de recuperar o poder das mãos de fulas e portugueses. 

Para esses grupos em especifico, particularmente mandinga, Cassacá foi uma desilusão e o início do seu desengajamento paulatino, com uma migração massiva para o Senegal (Casamansa) e a Gâmbia.


Arafan Mané
A assimilação vs integração dos biafadas na cultura e religião dos mandingas não aconteceu por acaso, o factor político pode ter sido uma motivação muito importante, da mesma forma que dentro do mimetismo religioso dos reis (mansas) mandingas do Mali (mais tarde Sudão Ocidental Francês) estava a vontade de levar uma vida calma, religiosamente bem servida dos comerciantes árabes que atravessavam o Sahara para vir à procura dos produtos locais (ouro e marfim). 

O único grupo que conhecia minimamente os objectivos do PAIGC e tinham ido voluntária e de forma consciente para a luta (ao mato) eram de facto os cabo-verdianos e crsitãos/grumetes de Bissau e estes eram muito poucos para fazer a guerra, pelo que Amílcar Cabral sempre esteve reticente em relação ao início da luta e os jovens biafadas de Quínara (onde se incluiam os Arafan Maná, Malam Sanhá, Quemo Mané, entre outros), influenciados pelos mais velhos, estavam cheios de ambição, mas com pouca formação intelectual e informação sobre o mundo e obrigaram a cúpula do partido a decidir avançar com a guerra no território da Guine que, aliás, já outros partidos (MLG e FLING) já tinham iniciado no Norte.


 (Revisão / fixação de texto, título do poste: LG)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21352: Em bom português nos entendemos (25): Quínara, Quinara ou Quinará?... Uma 'ciberdúvida'... (Luís Graça / Cherno Baldé)

(**) Vd. poste de 15 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26801: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte VIII

(***) Último poste da série > 14 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26688: S(C)em Comentários (64): o blogue da Tabanca Grande, segundo Carlos Matos Gomes (1946-2025)

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26448: Fotos à procura de...uma legenda (194): Pastelaria e Café Império, diz o Cherno Baldé, "comi lá em 1979 o primeiro bolinho de arroz"... E o Patrício Ribeiro confirma: "É o antigo Café Império, na praça do Império, onde hoje é o Hotel Império, o café é diferente mas continua a manter o mesmo nome, ainda hoje tomei lá o pequeno almoço"...




Guiné-Bissau > Bissau > Vista aérea > S/d > Assinalado a amarelo o café e pastelaria Império, na antiga Praça do Império (hoje, dos Heróis da Independència) (ao lado, o Hotel Império, e atrás, com maior volumetria, o Hotel Royal)

Foto: cortesia da página do Facebook da Society for The Promotion of Guinea-Bissau, una ONG,com sede em Bissau. Disponibiliza centenas de fotos da Guiné-Bissau de hoje. Merece uma visita. As fotos, em princípio, são do domínio público, não é indicada a sua autoria.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


Guiné-Bissau > Bissau >  Antiga Praça do Império (hoje, dos Heróis da Independência) > s/d > "Café Império, que hoje já não deve existir (ou transformou-se numa padaria e pastelaria, segundo lemos algues). Era local de encontro de muitos militares, durante a guerra colonial". Foto do álbum do Albano Costa, ex-1.º cabo at inf da CCAÇ 4150 (Bigene e Guidaje, 1973/74), fotógrafo profissional reformado (Guifóes, Matosinhos).

Foto (e legenda): © Albano Costa (2000).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > O "misterioso" estabelecimento comercial com esplanada, fotografado pelo Jorge Pinto, na véspera de regressa a Portugal... Alguns confundiram-no com o Café Bento, outros com a Cervejaria Solmar...A memória já não é o que era... Pormenor que podia ser uma pista: no pendão, ao nível do 1º piso, pode ler-se "Confeitaria" (e não "Continental", como sugere o Valdemar Queiroz)... 


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




1.  Alguns dirão que andamos aqui a discutir "o sexo dos anjos"...O mesmo é dizer, "conversa da treta" (*)...

A conversa quotidiana da generalidade dos seres humanos é sobre "coisas fúteis", do passado ou do presente.. Ninguém se interroga sobre o futuro... O passado e o presente conhecemo-los, mal ou bem... Temos uma narrativa "securizante", graças à nossa memória "seletiva"... O futuro, esse, não..., está carregado de incertezas. E a incerteza maior é a da hora e do lugar em que o "barqueiro de Caronte" nos vier buscar para a última viagem sem retorno...

Àparte esta reflexão melancólica (e meta...física!), lidamos mal com a incerteza... O futuro está fora da nossa zona de conforto...

Por isso, meus amigos, vamos lá continuar a decifrar o enigma (*): Café Bento ? Cervejaria Solmar ?... 

Nem uma coisa nem outra, dizem os mais "expertos" que calcorrearam a Bissau Velha do tempo colonial, à procura de uma bom vinho da "metrópole", de um bifinho com ovo a cavalo e batatas fritas, ou simplesmente de uma "bejeca" (como se diz hoje) para matar a malvada da sede (que na guerra e nos trópicos era a triplicar)...


2. O Cherno Baldé, que é hoje o "dono do chão", é perentório: 

"Ah!, tugas do caraças, o tempo não volta para trás...Mas se voltasse, vocês iriam parar de novo à Pastelaria Império, que ainda hoje existe com esse nome!... Ali na antuga Praça do Império onde se ergue o mamarracho de um monumento racista e colonista "Ao Esforço da Raça", inauguradio em 1945!... Escapou à fúria iconoclasta do Luís Cabral e dos seus rapazes paigecistas, todos filhos do colonislismo!...

Descolonizaram tudo, deitaram abaixo as estátuas dos vossos ilustres antepassadpos, mudaram a toponímia (rebatizada com os nomes dos grandes combatentes da liberdade da Pátria), arrumaram com os resquíscios todos dos velhos 'colóns0 (comoo diz o Rosinha),  decidiram por decreto que iriam construir um 'homem novo', segundo a Bíblia do Amílcar Cabral, mas continuaram a chamar 'Império' à pastelaria e ao hotel, junto à antiga Praça do Império, agora dos Heróis da Independència"...

De facto, a Pastelaria Império ainda hoje existe, com esse nome, e tem página no Facebook!...  Localização: Praça do  Império" (sic), Bissau, Guiné-Bissau, Telef +245 966 467 126...

E o Patrício Ribeiro acaba de o confirmar:

(...) Uma das fotos, mostra o antigo Café Império, na praça do Império, onde hoje é o Hotel Império, o café é diferente mas continua a manter o mesmo nome, onde hoje tomei o pequeno almoço, com vento e algum frio, 20º.

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 12:47:00 WET "(...)

Quanto à antiga Casa Esteves...,. " desde alguns anos é um banco. Perto do antigo Hotel Portugal, onde hoje funciona um Hotel, casino, bar e restaurante."


3.  Mais umas achegas da "malta-do-tempo-que-não-volta-p'ra-trás":

(i) Valdemar Queiroz :

Na última fotografia, aumentada, lê-se CONTINENTAL, no pendão na varanda da esplanada , pelo que os dois (militares) "já olham pro Continente” . 

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 13:43:00 WET 


(ii) Cherno Baldé:

Em 1979 aconteceu a minha primeira viagem a capital Bissau e, ainda lembro-me como se fosse hoje, o meu irmão trouxe-me a cidade que, já não era a mesma cidade do Gen. Spinola, mas ainda respirava-se um pouco do ambiente colonial, e na Pastelaria Império (na foto), deu-me a comer o meu primeiro bolinho de arroz e a seguir fomos assistir a um filme na então famosa UDIB, logo d'outro lado da Avenida da República/Amilcar Cabral. E, desde então nunca mais nos separamos salvo os anos de estudos no estrangeiro.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025 às 16:02:00 WET


(iii) Hélder Sousa:





(...) Tirei a minha carta de condução automóvel durante o ‘tempo da tropa’. Foi em Bissau, em Novembro de 1971.

Numa escola de condução ‘civil’, a “Escola de Condução Manuel Saad Herdeiros, Lda,” que se situava na Rua Tenente Marques Gualdes. À séria, com aulas de código e de condução pelas ruas de Bissau e também, já nas últimas lições, na estrada até ao aeroporto. O mais difícil era arranjar local para fazer “ponto de embraiagem”….

Quase tudo plano, havia três ou quatro sítios onde isso se fazia. Ensaiava-se em todos esses locais e um deles calhava de certeza no exame. A mim foi na pequena rampa de acesso à então “Praça do Império”, vindo do lado do aeroporto. Foi a última manobra e após isso, ficando aprovado, lá se foi comer uma ‘sanduiche’ de queijo da serra na “Pastelaria Império”. Com o examinador, claro! (...) (**)



(iv) Carlos Pinheiro:

(...) Nessa avenida estavam talvez as maiores casas comerciais. Por exemplo: a Casa Gouveia, da CUF, que vendia ali de tudo e que tudo comprava o que os naturais produziam, principalmente a mancarra; o Banco Nacional Ultramarino, o banco emissor da Província;o Cinema UDIB; e ao lado uma boa gelataria, mais acima, a Pastelaria, Padaria e Gelataria Império, assim baptizada por estar já na Praça do Império onde se situava o Palácio do Governo e a Associação Comercial. (...) (***)

Afinal, em que é que ficamos ? 

Café Bento, não, Cervejaria Solmar, não... Pastelaria ou Café Império. sim!!!





Excerto de mapa de Bissau > Posição relativa da Pastelaria (e Café) Império e o do Hotel Império, na antiga praça do Império, hoje dos Heróis da Independência. Uns chamam-lhe pastelaria, outros café... O Albano Costa tirou uma chapa em novembro de 2000 (****).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
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Notas do editor:

(*)  1 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26446: Fotos à procura de... uma legenda (193): A foto de agosto de 1974, do Jorge Pinto, corresponderia a um dos três cafés-cervejarias existentes nas imediações da Praça Honório Barreto, o Internacional, o Portugal ou o Chave 
de Ouro ?

Vd. poste anterior:

31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?

(****) Vd. poste de 9 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16287: Memória dos lugares (340): Café Império, Praça dos Heróis Nacionais, Bissau, em novembro de 2000 (Albano Costa, ex-1.º cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74, o fotógrafo de Guifões, Matosinhos)